segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Não me fales...

Não me fales de amanhã...
Amanhã é uma ilusão,
sombra convertida em razão de viver...
Espera sem sentido.
Não me fales de amanhã
como quem pede futuros.
Não me fales das coisas que pensas,
pensar detém;
construir é o que temos para ter.
Não me fales de amanhã sem muros
se o teu hoje se limita por grades de ontem.
Não me fales de amanhã arrastando
arrependimentos,
Ódios,
rancores...
Não evolui quem arrasta passados,
Aceita,
abandona
e desfaz história sem deixar de ser.
Não me fales de amanhã,
não tenho nenhum.
Meu amanhã é o momento,
agora
ainda posso.
Amanhã é aventura aceitar o resto
como chega, ignorando a dor
obrigando a vontade a permitir-me.
Meu amanhã está em meus filhos,
que não têm hoje, o ontem... foi.
Meu amanhã está em conseguir
que caiam as muralhas
que fazem difícil esta luta
de meus sentidos
para fazer com que o meu corpo responda...
Descubro com dor
que a muralha mais alta és tu.
Meu amanhã chegará
quando terminar o começado,
retire do armário velho
os farrapos do vestido da decepção
que alguma vez me serviu.
Quando tiver recolhido
os frutos de uma macieira
regada com sangue e lágrimas.
Meu amanhã chegará
quando me abrace a mim mesma
e desde o fundo do meu coração
me perdoe
e te perdoe.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Consciencialização...

Se olhas o espaço que delineia o teu contorno
só verás as coisas que estão todos os dias.
As paredes que têm as janelas tão quietas
que nunca tentaram mudar-se de lugar,
e as portas iguais, com as mesmas almofadas,
que abrem sobre o mesmo lado com o mesmo barulho
de humidade que amolece o metal já corroído.
Os cantos gastos pelo tempo se enchem
de manchas de fluidos atirados da cama
e as cortinas que nunca se movem por si mesmas.
Sempre se vê o mesmo nas coisas queridas
e a ilusão ingénua de encontrar algo novo,
nos embrutece o juízo, nos tira a energia...
E para completar está esse velho espelho
que repete a imagem deprimente de tudo
o que sempre se encontra, ainda que o procuremos.
Consciencializarmos-nos do jogo do reflexo constante
de que fizemos uma vida que morre
rotineira e perdida, é assumir que somos
tão donos como escravos do que construímos,
Ganhámos ou perdemos
O circulo viciosos de herdar as ideias
limitou os espaços ao seu real crescimento
e cada novo homem parece cruel reflexo da pior qualidade
e o espaço tão cheio que conforma o contorno,
finalmente resulta nessa jaula oxidada vestida de castelo
que guarda na mesma as coisas queridas
que já não nos serve
me tentando esconder as nossas realidades
constantemente erramos procurando as respostas
onde não encontraremos jamais uma verdade.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Ai...

Persegue-me e apanha-me...
No jogo do teu amor fecha-me
e com toda a tua potencia toma-me.
Toca-me,
acaricia-me,
aperta-me,
beija-me.
Em arranque de paixão,
chupa-me,
morde-me...
Não detenhas os teus impulsos por juízo nem calma,
porque é o teu lado animal quem me possui.
Depois...
hás-de morrer como culpado,
como inútil escravo do instinto,
que sucumbe ao desejo de ter-me,
...mais não chega jamais perto da minha alma.
Então apodrece,
morre,
sofre...
E com lágrimas de sangue...
Chora-me!